sábado, 18 de março de 2006

Abriu a geladeira e pensou no que faria naquela noite. Jurava que não sabia porque fazia aquilo sempre, ele não sentia fome alguma. Porém a fraca iluminação do eletrodméstco com a porta entreaberta criava na cozinha escura um clima âmbar agradável. O friozinho que vinha de dentr dela fazia-o sentir-se bem. Gostava do frio. E aquela cidade era demasiadamente quente, por vezes até sentia-se mal. Deveria ter escolhido uma faculdade mais ao sul, São Paulo, quem sabe Curitiba.
Nesse momento, com os pêlos do braço arrepados pela diminuição da temperatura do seu corpo, com o olhar fix na caixa de leite desnatado (não suportava qualquer outro tipo!) mal iluminada, pensou nela. Se tivesse ido morar em outro lugar qualquer, não teria conhecido ela. Nem ele. Então relembrou-se do motivo que o levara até ali. Ela não sabia da existência dele, nem ele a dela. Deveria contar? Os dois, com certeza, o fariam escolher, mas ele não conseguia. Amava muito ele. Amava muito ela. De maneiras diferentes. E não queria mais mentir, já levara essa situação assim por muito tempo. Contaria. Na primeira oportunidade (...)
O telefone tocou e lembru-se de piscar. Os olhos secos e já vermelhos ainda estava fixos no leite, embora ele nem notara. Fechou a geladeira e atendeu. Era ele. Perguntava o que estava fazendo e convidara-o para sair. Falou que não podia e que tinha que conversar "tenho uma coisa que preciso te contar, e tem que ser agora!". Foi direto ao assunto e contou tudo. Sem ter dado tempo para o outro ter alguma reação falou que precisava desligar. E ligou para ela. Disse toda a verdade do que acontecera nos últimos meses e que ainda estava acontecendo: "não espero que vc entenda nem aceite. Só queria que você soubesse que te amo muito. Tchau".

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